Meia-noite de sexta-feira,
boulevard Jourdan, 14º arrondissement. É difícil, supomos (ainda estamos por
aqui no campo da suposição, já que só completamos por enquanto cinco dias de
viagem – e por enquanto a viagem é quase ainda um tempo de turista), escrever sobre VIVER EM PARIS e não soar
pedante. (Supomos também que ao cabo do primeiro mês – com os gastos na ponta
do lápis se tornando realidade – poderemos ter o real quadro do que é viver
nessa cidade).
Jardins de Luxemburgo: muito quente
É evidente, entretanto, que a
vida aqui é diferente em muitos sentidos. Em todo lugar por onde passamos, até
agora, havia algo o que ver, onde ou porque parar em silêncio e observar. Das
avenidas com os prédios e suas chaminés que remetem à época em que a calefação
era à lenha, ao verde por toda a parte, à integração da cidade com o rio Sena,
ao estímulo à vida na rua, ao uso do transporte coletivo e etc. (à parte, é
claro, todas as belezas óbvias: o Louvre, a Notre Dame, a torre e etc e tal).
Uma coisa que chamou atenção foi
a relação das pessoas com os parques e a leitura. Em todo parque há uma
multidão de cidadãos tomando sol e lendo. Obviamente há aqueles que vão somente
para tomar sol, mas o volume de leitores é muito grande.
“Baita clichê!”, alguém vai gritar.
É um clichê considerável dizer que o europeu deita na grama do parque no verão
e fica lendo ou fazendo piquenique. Vimos isso nos jardins de Luxemburgo, um
conjunto anexo ao palácio do mesmo nome construído no século XVII; no jardim
das Tulherias, parte do palácio de Catherina de Medici, “rainha consorte da
França” no século XVI; no parque Montsouris, aqui ao lado da cite universitaire
e em outros lugares. Em Paris a coisa
parece mesmo séria.
Conversando com um jornalista
brasileiro por aqui, casado com uma estrangeira, ele nos conta que se
impressiona sinceramente com os próprios filhos: “nos seus nove ou dez anos,
eles já adquiriram uma cultura e uma curiosidade sobre conhecer as coisas que
eu não tinha nessa idade e fui ganhar muito depois”.
Não achamos que viver o dia a dia
aqui para a imensa maioria das pessoas (que não sejam por exemplo um casal de
estudantes com relativa tranquilidade) seja exatamente um sonho, que a França
seja ideal, que não existam inúmeras questões (derivadas hoje, por exemplo, da
austeridade de governos que assola a Europa e que tem neste país um exemplo muito
forte, mesmo existindo aqui um governo de esquerda) ou coisa parecida (até
porque, voltemos ao começo desse texto, nem estamos aqui há tempo suficiente),
mas... est baise!
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A cidade não tem somente um
sistema de aluguel de bicicletas que permite que você ande pra lá e pra cá o
dia todo pagando quase nada. Tem também um sistema de EMPRÉSTIMO DE CARROS
ELÉTRICOS. Quando na “Zona 1”, você pega o carro em um lugar, onde ele fica
amarrado com uma corrente, e entrega em outro. São uns carrinhos elétricos
engraçados, cinza, Autolib (a bicicleta é Velib).
Obviamente estão concentrados nas
zonas próximas ao centro, ao quartier latin (o “zero” de Paris), e não nas periferias
(isso não deveria ser assim, obviamente).
Especulamos sobre empréstimo de
carros: já que a prefeitura (“mairie” de Paris) não pretende, por óbvio, botar
carros pra rodar na rua e gerar tráfego, porque emprestaria carros pra quem
vive por aqui? Uma possibilidade é que o sujeito que use a bicicleta pública e
o metrô no seu dia a dia e eventualmente precise transportar algo não vá querer
entrar no metrô carregando uma escada ou um criado-mudo. Aí então ele PEGA
EMPRESTADO o carrinho cinza e faz o transporte. Outra possibilidade é permitir que
as pessoas deem umas bandas até a alta madrugada ou em cantos mais distantes da
cidade. Vamos averiguar. Ou não.
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue legal! Seus relatos são muito interessantes. Bj
ExcluirMeninos, que delícia!!!! deu até para sentir o calorzinho do sol parisiense!!!! beijocas
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